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As mãos vidreiras de António Esteves

15 Julho 2015

O Museu do Vidro, na Marinha Grande, tem patente a exposição “António Esteves, a arte de trabalhar o vidro”, até ao dia 29 de maio. A mostra foi inaugurada no passado dia 11 de julho, perante a presença de dezenas de representantes de entidades locais e familiares e amigos do mestre vidreiro.

Na inauguração, o vereador da Cultura, Vítor Pereira, recordou que António Esteves, “pelas suas características pessoais, buscou e sempre aceitou novos desafios. Procurou naturalmente ganhar a sua vida como operário que era, mas nunca olvidou aquilo que considerava o mais importante: a possibilidade de dar azo à sua criatividade e poder fazer peças da sua autoria”.

A Câmara Municipal da Marinha Grande e o Museu do Vidro “agradecem o envolvimento, a disponibilidade e a participação deste Mestre vidreiro que, ao longo de toda uma vida tem criado e continua a criar tantas e tantas peças que entraram definitivamente, por mérito próprio, na história marinhense desta arte tão sublime”, continuou Vítor Pereira.

Sensibilizado com aquele momento que consagra a sua carreira de 50 anos, António Esteves admitiu ser “uma honra muito grande estar aqui”, agradecendo à Câmara Municipal a possibilidade de expôr parte do seu trabalho no Museu do Vidro.

E lembrou: “comecei aqui (na FEIS - Fábrica Escola Irmãos Stephens) a minha vida, na arte do vidro e é aqui que eu a acabo” (através da exibição da sua obra).

Após a inauguração da exposição, António Esteves cantou o conhecido poema “Mãos Vidreiras”, da autoria de Francisco Correia Moita, acompanhado à viola por José Pires, emocionando os presentes.

De seguida, José Pires tocou e cantou o fado “Apito da fábrica”, que recorda a atividade da FEIS e a vida de tantos vidreiros que nela começaram a trabalhar enquanto ainda crianças.

A arte de trabalhar o vidro

Com uma carreira de 50 anos na arte de trabalhar o vidro e o cristal, António Esteves é hoje um dos mais notáveis mestres vidreiros portugueses. A exposição “António Esteves, a arte de trabalhar o vidro” apresenta 30 obras que espelham o percurso deste mestre vidreiro ao longo de mais de duas décadas de saber e de talento na arte de fazer vidro.

António Fernando André Esteves nasceu a 1 de julho de 1953, no lugar da Garcia, freguesia de Marinha Grande. Começou a trabalhar no dia em que fez 12 anos, na Fábrica-Escola Irmãos Stephens, como aprendiz de vidreiro e aqui fez todo o seu percurso profissional.

Em 1985, no âmbito de um protocolo de intercâmbio, António Esteves estagiou na Suécia, nas empresas “Reijmeir” e “Orrefors”, contactando com um novo ambiente, mas o mesmo modo de encarar o vidro.

Em 1987 venceu o prémio de melhor peça de “Artesanato Moderno”, no IV Salão Nacional de Artesanato que decorreu no Casino Estoril. Nesse ano participou numa exposição ao vivo no Fórum Picoas, em Lisboa.

Em 1988 transferiu-se para a Crisal (Atlantis) mas no ano seguinte regressou à Fábrica-Escola Irmãos Stephens, onde desempenhou as funções de monitor vidreiro, garantindo a qualidade e rigor no fabrico das peças em cristal.

Frequentou uma formação financiada pelo Fundo Social Europeu em 1991 e, nesse ano, a convite da administração da Fábrica-Escola, fabricou uma garrafa de seis vinhos em cristal doublé vermelho que foi oferecida a Sua Santidade o Papa João Paulo II, por ocasião da sua visita a Portugal.

Com o encerramento da Fábrica-Escola Irmãos Stephens, em 1992, Esteves passou a trabalhar por conta própria e criou peças para diversas fábricas. Trabalhou um ano na Roquividros e em 1995, a convite do Ministério do Trabalho, foi até à Madeira trabalhar na “Protea – Cristais da Madeira”, onde também prestou formação.

Em 1996 iniciou a sua colaboração na “Jasmim Glass Studio” (Vicrimag, S.A.) até ao seu encerramento, em 2010.

Concretizou peças em colaboração com reputados designers e artistas plásticos da Europa, Japão e Estados Unidos e criou as suas próprias peças, um trabalho que mereceu reconhecimento no concurso promovido pela Vitrocristal, pelos três primeiros prémios que obteve em 1998, um dos quais atribuído à garrafa de dez vinhos que criou.

O ano de 1998 foi marcado pelas comemorações dos 250 anos da indústria vidreira, com a realização de diversos eventos ao longo de todo o ano. António Esteves viu a sua imagem ser selecionada para integrar a coleção filatélica lançada pelos Correios, figurando no selo de 140$00.

A Câmara Municipal reconheceu o seu trabalho e condecorou-o com a medalha de mérito da cidade. As comemorações tiveram o seu auge em dezembro, com a inauguração do Museu do Vidro pelo Presidente da República Jorge Sampaio, que recebeu uma garrafa de seis vinhos fabricada por Esteves.

A sua obra foi reconhecida no 2.º Salão Internacional do Vidro e na 4.ª Bienal de Artes Plásticas da Marinha Grande em 2002.

Recebeu o grau de “Mestre” em 2005, atribuído pelo Crisform, AIC, Câmara Municipal da Marinha Grande, Sindicato do Setor Vidreiro, Sindeq e Stiv.

A mostra “António Esteves, a arte de trabalhar o vidro” ficará patente até 29 de maio de 2016, podendo ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.