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Discurso comemorativo do 25 de Abril do presidente da Assembleia Municipal

25 Abril 2019

Discurso proferido pelo Presidente da Assembleia Municipal da Marinha Grande, Luís Marques, na sessão solene da Assembleia Municipal da Marinha Grande, comemorativa do 45º aniversário do 25 de Abril, ocorrida no dia 25 de abril de 2019, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

 

"25 de Abril sempre
Bom dia!
Exma. Srª. Presidente de Câmara
Exmas. Srªs e Srs. Vereadores
Exmos. Srs. Deputados Municipais
Exmos. Convidados
Minhas Senhoras e meus Senhores


Agradeço a todos a presença nesta sessão solene da Assembleia Municipal comemorativa dos 45 anos do 25 de abril, porque isso, não deixa de ser um sinal de que, nos mantemos firmes na defesa dos seus princípios.

A convocação desta assembleia, foi feita tendo em consciência de que esta, é a casa da democracia do nosso concelho. Aqui estão representados todos os que, concorrendo às eleições autárquicas de Outubro de 2017, os nossos Munícipes entenderam, com o seu voto, que aqui deviam ter lugar, quer fossem de partidos políticos mais ou menos tradicionais quer fossem de movimentos independentes, uns e outros legitimados por uma das grandes conquistas de Abril, o voto livre de todos os que entenderam que, nas urnas, se deviam expressar. Assim é nosso entendimento, entendimento extensivo a todos os grupos parlamentares que, datas simbólicas como o são os 45 anos do 25 de Abril, também aqui deviam e devem ser evocadas.

45 anos depois, e quando muito do que se esperava como resultado da Revolução dos Cravos foi e não foi conseguido, relembremos as expectativas que todos tínhamos e o que, em certa medida, delas, até hoje, foi e não foi concretizado.

O dia 25 de Abril de 1974 é, para todos os democratas, um dia inigualável que marca a história contemporânea de Portugal. Às ruas, saíram pessoas de todas as raças e credos. A opressão fascista dava lugar a uma nova esperança. Esperança num futuro que, todos esperávamos, iria permitir a realização dos sonhos que povoavam a mente dos que viam, no obscurantismo em que vivia o País, um obstáculo ao seu desenvolvimento político, social e económico. O entusiasmo e a alegria que todos sentimos nesse dia, vivido intensamente na luta antifascista que se estendeu a todo o País e às Colónias, ficam para sempre marcados na memória coletiva de um povo ao tempo, triste e pobre, atrasado e deprimido. Tendo presente os 3 D’s (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver) que o MFA considerava fundamentais, e que todos, ao tempo, adotámos como necessários de realizar para termos um futuro coletivo melhor, interessará hoje analisar se esses desígnios foram atingidos, em que forma o foram e, o que falta para que Portugal seja aquilo que o 25 de Abril potenciava.

Uma das grandes conquistas desse dia foi a Democracia, pelo menos a formal, já que, as outras, a social e a económica, que permitirão a todos uma vida digna, ainda está, em muitos lugares e modos, distante do que se esperava com a abertura das “portas que Abril abriu”. O direito a escolhermos quem entendemos para nos governar, o direito a discordar sem receio e sem temor, o poder democrático autárquico - talvez a grande conquista do 25 de Abril - ai estão, ainda que, nalguns lados, algum saudosismo do caciquismo retrógrado, que ainda se escuda e por vezes retoma as ideias do antes de 74, procure por vezes manter e retomar, os resquícios de um passado que nos envergonha e que não acredito, permitiremos que volte. E notemos que foi essa conquista da Democracia que permite, a todo nós, estarmos aqui hoje, num lugar que, ao tempo, era só de alguns e para alguns, em que, com certeza, nós não estávamos incluídos.

Descolonizar foi das outras das grandes obras que o 25 de Abril concretizou. Com erros? Por certo. Só não erra quem não faz. Mas a guerra colonial acabou e muitas vidas, tanto de jovens Portugueses como de habitantes das ex-colónias, deixaram de ser ceifadas numa guerra de todo injusta e desproposita, e que a nada conduziria senão ao depauperamento de todos os que nela estavam envolvidos. Hoje, as relações fraternais que se estabeleceram com os povos irmãos que então combatíamos, provam também a grandeza e a dimensão do 25 de Abril.

Ainda que o Portugal de hoje nada tenha a ver com o de há 45 anos atrás, infelizmente, o 3º D (Desenvolver) ainda está, em grande medida, por cumprir. Sabemos que este 3º D é e será sempre uma obra inacabada, mas a nossa sociedade deve esforçar-se para que, a cada dia que passa, ele se cumpra, e cumprir-se-á a todo o tempo e de forma mais fácil se, o egoísmo e a avidez, deixarem de ser, para ainda muitos, a sua filosofia de vida.

Houve de facto, com o, e o pós o, 25 de Abril, grandes conquistas, feitas contra a vontade dos que ainda hoje pensam e julgam, que o obscurantismo em que ao tempo se vivia, é a melhor forma de manter caladas as aspirações dos que pouco ou nada tendo, reivindicam mais e melhores oportunidades, mais e melhores condições de vida. E é ao lado desses, que os arquétipos, os fazedores e os defensores do 25 de abril, nos disseram e dizem, todos os dias, que nos devemos manter, procurando com a força e a vontade de abril, minimizar os estragos que, a actual sociedade individualista, interesseira e, em muitos casos, oportunista, lhes provoca a todos os dias que passam. Saibamos sempre estar ao lado dos mais fracos e dos mais desprotegidos, e com isso conseguiremos realizar Abril.

Saibamos manter as conquitas básicas que o 25 de Abril nos trouxe, de entre as quais destaco de novo a Democracia e o Serviço Nacional de Saúde. Democracia que muitos hoje, na subserviência ao capital financeiro e aos desígnios de quem, tendo poder económico, manda e pode, se agacham porque sabem que, as consequências desse agachamento, atingirão por certo os mais desfavorecidos e não eles. O Serviço Nacional de Saúde, porque sem ele, a vida para todos nós seria por certo muito mais curta. E saibam aqueles que hoje o procuram desfeitear, denegrir e minorar, que estão a contribuir com as suas ideias e ações, para que a nossa vida, enquanto seres humanos, se torne mais curta. Não podemos, nem devemos, pactuar com isto.

Merecer Abril, é também saber retirar dele o que ele nos ensinou, e transmitir esse conhecimento aos mais novos, para que eles se mobilizem na continuidade da luta por uma sociedade mais digna e justa, que os que foram os obreiros e os que fizeram o 25 de Abril tanto ansiaram. E aqui, alguns dos ditos democratas, tem de se interrogar se, com as suas atitudes, conseguem mobilizar para a vida colectiva todos os que, nascendo perto ou no pós 25 de Abril, nada viveram do antes, e pouco sabem do que, no depois, ele ajudou a concretizar.
Naturalmente que atitudes, pouco ou nada transparentes, a corrupção e compadrio, que alguns, dizendo-se de Abril, praticam, não ajudam por certo a mobilizar as vontades dos que podem e devem, pela sua juventude, continuar a defender uma sociedade mais nobre na grandeza do pensamento e mais justa na repartição do rendimento.
Exija-se pois, de todos nós, que consigamos que o 25 de Abril se realize em pleno. Essa será a melhor forma de homenagear todos aqueles que para ele contribuíram, sem esquecer que, muitos, o fizeram com a própria vida. Na nossa terra, no nosso concelho, temos exemplos, que sobram, de quem soube lutar até ao fim para que, hoje, todos aqui estejamos. Saibamos também merecer esse legado que vêm dos nossos avós, e façamo-lo com a mesma coragem e dedicação a causas com que eles o fizeram. Em sua memória e em nosso proveito por certo.

Viva a Marinha Grande!
Viva o 25 de Abril!
Viva Portugal!"

25/4/2019
Luís Marques