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Discurso do Presidente da Câmara evcativo do 25 de Abril de 1974
Discurso do Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, evocativo do 25 de abril , proferido na Praça Guilherme Stephens, no dia 25/04/2015:
"Marinhenses! Vieirenses! Moitenses!
Esta foi a noite!
- Esta foi a noite que foi feita para nós podermos estar aqui, hoje!
- Esta foi a noite que nos trouxe a promessa de um novo dia!
- Esta foi a noite que arrancou da dormência em que vivia um Povo oprimido e esmagado pelo peso de uma ditadura que durou tempo demais.
- Esta foi a noite que abriu as portas das cadeias onde a Liberdade foi acorrentada e torturada.
- Esta foi a noite que silenciou as armas e trouxe de volta os nossos soldados.
- Esta foi a noite que nos trouxe do exílio em que vivemos, durante décadas, ainda que dentro das fronteiras do nosso próprio país!
Marinhenses! Vieirenses! Moitenses!
Esta é a noite!
Esta é a noite em que devemos perguntar: quem somos?
- Somos um Povo sofrido e amargurado!
- Somos um Povo de trabalho árduo e sacrificado, que não é reconhecido!
- Somos um Povo que chora lágrimas de suor e de sangue, que não são merecidas!
- Somos um Povo que sente novamente as dores da fome e da miséria, que vive sofrido e amargurado!
- Somos um Povo em que:
- Mais de 100.000 crianças vivem diariamente com fome;
- Mais de 8.000 crianças vivem em Instituições Sociais;
- Em cada 10 Jovens 2 não terminam o Ensino Básico e Secundário por falta de condições económicas das suas famílias;
- Mais de 1 milhão de cidadãos em idade activa não têm trabalho;
- Mais de 200.000 Jovens entre os 25 e os 34 anos saíram do País nos últimos 4 anos para poder encontrar uma vida melhor, a vida que o seu próprio país lhes negou;
- Mais de 1 milhão de idosos com mais de 65 anos de idade vive ou sozinho ou na companhia de outra pessoa igualmente idosa;
- 1 em cada 5 Portugueses vive na Pobreza, sendo que é entre as Crianças, Jovens e Idosos que se verificam os maiores riscos de pobreza extrema.
Esta é a realidade humana e social que nos dói e constrange e que nos toca directamente a todos nós.
- Porque esta é a realidade que testemunham diariamente as inúmeras Instituições de Solidariedade Social que trabalham incansavelmente no nosso Município com Crianças e Jovens em risco, marginalizadas e tantas vezes atiradas para a dependência e a criminalidade; com Famílias em ruptura económica e risco de exclusão social; com Idosos que vivem isolados, sozinhos, abandonados...
- Porque esta é a realidade que testemunham os Utentes das Unidades de Saúde Públicas no nosso Município, desprovidas quer de recursos humanos quer de meios materiais, e até mesmo de espaço físico digno, para poder dar resposta eficaz às necessidades de todos nós, particularmente dos que estão mais fragilizados.
- Porque esta é a realidade que testemunham diariamente os nossos Alunos e Professores nas nossas Escolas Públicas, onde faltam igualmente recursos humanos e condições físicas e materiais para um Ensino a que só não falta qualidade e excelência por mérito e sacrifício de Professores, Técnicos, Auxiliares e Pais dedicados.
- Porque esta é a realidade que testemunha o nosso Município, Câmara e Freguesias, quando somos sistematicamente limitados na nossa autonomia para intervir e agir em defesa dos interesses de todos nós; quando nos querem forçar a assumir mais responsabilidades, com uma Lei de transferência de competências sociais, e ao mesmo tempo fazem cortes drásticos nas verbas transferidas por via do Orçamento Geral de Estado.
Marinhenses! Vieirenses! Moitenses!
Esta é a noite!
Esta é a noite em que devemos perguntar: o que fazemos aqui?
- Estamos aqui porque não queremos esquecer o que já fomos!
- Estamos aqui porque não queremos esquecer os que lutaram, e quantos morreram!, para que aqui pudéssemos estar hoje!
- Estamos aqui porque queremos homenagear aqueles que fizeram Abril; aqueles que honraram a sua Cidade ao inscreverem os seus nomes nesta página da História que hoje celebramos.
- Estamos aqui por eles e também porque se eles não se resignaram ao que foi Portugal antes de 1974, nós não nos resignamos ao que é Portugal hoje.
- Estamos aqui porque queremos muito mais do que querem para nós hoje!
- Estamos aqui para dizer que não permitiremos que seja espezinhada e muito menos rasgada a Constituição da República Portuguesa, emanada da Assembleia Constituinte eleita no primeiro sufrágio directo e universal que aconteceu faz hoje precisamente 40 anos, e que ainda hoje serve de matriz à nossa identidade nacional.
- Estamos aqui para dizer que exigimos aos Órgãos de Soberania Nacional que ajam em conformidade com a Constituição que juraram cumprir e fazer cumprir, ao invés de serem cúmplices de um Governo que ilegitimamente ataca as classes mais desfavorecidas e desprotegidas da nossa Sociedade, ao mesmo tempo que defende os interesses corporativos, seja de Grupos Económicos, seja de Instituições Financeiras, nacionais ou estrangeiros.
- Estamos aqui para dizer que não continuaremos a pactuar com um Regime que, em nome de uma suposta social democracia, prossegue com uma política de destruição do Estado Social pelo qual tantos lutaram, para o qual tantos contribuímos.
- Estamos aqui para dizer que não abdicamos da defesa de um Sistema Nacional de Saúde universal e gratuito para todos os Cidadãos.
- Estamos aqui para dizer que não abdicamos da defesa de um Sistema Nacional de Educação e de Formação Profissional igualmente universal e gratuito para todas as Crianças e Jovens, do ensino pré-escolar ao universitário.
- Estamos aqui para dizer que queremos ter de novo o futuro nas nossas mãos!
- Estamos aqui para dizer que queremos o nosso País de volta!
Marinhenses! Vieirenses! Moitenses!
Esta é a noite!
Esta é a noite em que devemos olhar uns para os outros!
Esta é a noite em que devemos querer saber de nós!
Portugal venceu 4 décadas de ditadura e opressão não com a força das armas, mas com a força da união e da solidariedade nacional.
O egoísmo e o individualismo servem apenas para alimentar a divisão e a discórdia, para cimentar invejas e ciúmes, para destruir e não para construir.
Esta é a noite para de novo nos unirmos!
Esta é a noite para em cada rosto ver igualdade!
Esta é a noite para afirmar a nossa fraternidade!
Marinha Grande, acorda e levanta-te!
Porque Abril não foi ontem! Abril é hoje! Abril é sempre!...
...e o Povo é, ainda, quem mais ordena... dentro de ti ó Cidade!
Viva o 25 Abril!
Viva a Marinha Grande!
Viva Portugal!"
Álvaro Manuel Marques Pereira
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