Discurso proferido pelo Presidente da Câmara nas comemorações do 25 de Abril
"1974 | 25 ABRIL | 2017
Marinhenses, Vieirenses, Moitenses
43 anos nos separam daquela madrugada, «o dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio» e ainda hoje, a cada ano, a vivemos com o mesmo sentimento de humildade e de gratidão diante daqueles que nos trouxeram a Liberdade!
Liberdade tantas vezes negada e roubada por um Regime fascista e ditatorial, que ao mesmo tempo que nos queria «orgulhosamente sós» numa Europa dilacerada pela Guerra não hesitou em mandar os próprios filhos da Pátria para uma guerra fratricida em nome de um imperialismo decaído e falido.
Liberdade que não aconteceu por mero acaso naquela noite, mas que foi forjada ao longo de décadas com lágrimas de sangue derramadas por aqueles e aquelas que nunca permitiram que lhes fosse aprisionada a Alma, mesmo quando lhes eram aprisionadas as mãos, os pés ou a própria voz!
Ao lado desses homens e mulheres que a História regista e preserva, a cujo Rosto todos nós associamos o Rosto da Liberdade, há tantos outros Homens e Mulheres que nas quatro décadas de Estado Novo resistiram e lutaram, tantos forçados a viver clandestinamente, cujo nome e cujo rosto figura apenas na Memória de alguns, seus conterrâneos ou coetâneos!
Nomes e rostos, histórias que muitos de nós transportamos e acarinhamos porque são os nomes e rostos, as histórias de familiares, amigos, colegas de escola ou de trabalho, vizinhos!
Nomes e rostos, histórias que partilhamos por estes dias em conversas cruzadas, porque cada uma delas marcou a nossa própria história e nos despertou para a necessidade de nós próprios assumirmos o nosso lugar, a necessidade de não permitirmos que continuassem a ser outros a decidir o nosso futuro, a decidir a nossa vida!
São esses nomes e esses rostos a quem hoje queremos prestar a nossa homenagem!
Aos Homens e Mulheres Marinhenses, das nossas três freguesias, dos nossos diversos lugares, que habitaram as nossas ruas, que trabalharam nas nossas fábricas, que educaram cada nova geração, que deram vida às nossas Associações e Coletividades, que serviram a nossa Cidade e o nosso Concelho!
Marinhenses, Vieirenses e Moitenses que, independentemente da sua filiação partidária ou sindical, deram de si por todos nós, por aquilo que para eles era apenas uma firme Esperança e para nós, hoje, uma Certeza: a Liberdade que hoje celebramos!
Saudamos, recordamos e reconhecemos os nomes daqueles que fizeram o 18 de Janeiro de 1934, o Movimento Operário de resistência ao Regime que se constituiu como anúncio profético de uma promessa que precisamente 40 anos depois haveria de se cumprir!
Saudamos aqueles que estando entre nós, podemos olhos nos olhos, a partir deste lugar, em nome da Câmara Municipal e do Concelho, abraçá-los e dizer-lhes: Obrigado!
Saudamos o Mestre Guilherme Correia, que testemunhou o 18 de Janeiro de 1934, foi desde sempre um resistente ao Antigo Regime, e se afirmou como um digno Embaixador da Arte e da Cultura!
Saudamos Alfredo João Tomé, que a partir da Marinha de Guerra, integrou o Movimento das Forças Armadas e fez parte dos Capitães de Abril!
Saudamos nestes, todos os outros Marinhenses, homens e mulheres de entre nós, que transportam na memória esses duros anos da Resistência, na luta por um Portugal melhor, por um Portugal maior!
Recordamos os que já partiram, aqueles que partiram vítimas do regime que combateram, aqueles que partiram exilados da sua terra e do seu país, aqueles que partiram forçados à clandestinidade, aqueles que partiram com o corpo feito prisioneiro e maltratado mas com o espírito inteiramente livre!
Recordamos entre tantos outros, António Baridó, Francisco Sousa, Helena Branca Teodósio, Joaquim Carreira, Joaquim Gomes, José Gregório, José Henriques Vareda, José Reinaldo, José Moreira, Manuel Baridó, Manuel Luiz, António Marques Júnior, Mário Roldão, Osvaldo Castro!
Todos estes, e muitos outros, permanecem na memória das gerações que lhes sucederam, quer por tudo quanto fizeram nos longos anos da resistência e da luta pela Liberdade e a Democracia, quer por quanto fizeram e representaram para a afirmação do Concelho da Marinha Grande nestes 43 anos após o 25 de Abril de 1974.
Reconhecemos ainda todos aqueles e aquelas cujo rosto e nome não figura nos registos documentais, mas que não deixaram de ainda assim contribuir para que hoje pudéssemos ser o País, livre e democrático, que somos!
Reconhecemos todos os Pais e Mães que viram partir ou morrer os seus filhos na Guerra Colonial ou nas prisões do Regime!
Reconhecemos todos os Filhos a quem foi roubada a presença dos seus Pais, presos ou deportados!
Reconhecemos as Mulheres, que sozinhas se viram forçadas a ser o sustento e o pilar das suas Casas!
Reconhecemos todos aqueles e aquelas que mesmo diante das maiores provas nunca deixaram de acreditar, e de sonhar e de lutar, para que nascesse essa madrugada, esse dia princípio de todos os dias claros e limpos, de onde nos reerguemos, resgatados enfim, da longa noite escura da opressão e do silêncio!
Marinhenses, Vieirenses, Moitenses!
Celebrar o 25 de Abril de 1974 é recordar e homenagear aqueles e aquelas que concretizaram o que até então apenas podíamos sonhar e desejar!
Mas tão ou mais importante quanto o recordar e celebrar o passado é o manter vivo o legado que nos foi deixado por essas gerações de Resistentes e Obreiros do 25 de Abril de 1974:
Um legado de sacrifício e abnegação na luta por um ideal maior que a sua própria vida;
Um legado de resistência e de perseverança diante das adversidades, fiéis aos seus princípios e aos seus valores;
Um legado de amor e de lealdade à Pátria e aos outros, na defesa dos valores da Liberdade, da Justiça e da Paz!
É este legado que mais que tudo importa sabermos transmitir às novas gerações a quem este dia já pouco ou nada diz, além do barulho da música e das luzes, ou do facto de ser mais um feriado no calendário!
Às novas gerações, nascidas após o 25 de Abril de 1974, é nosso dever público e coletivo, em casa e na escola, nas instituições públicas e na rua, transmitirmos o verdadeiro sentido e significado deste Dia maior na nossa História.
Porque aqueles que ignoram os erros do passado estão condenados a repeti-los, não podemos permitir que seja por ignorância ou desconhecimento que o futuro do nosso país, que o nosso futuro!, seja comprometido.
Precisamente neste ano em que encerramos, dando ao mesmo tempo início, a mais um ciclo político, com a realização das 12ª Eleições Autárquicas, importa que todos nós tomemos renovada consciência do nosso dever pessoal e coletivo em contribuirmos ativamente para a construção do nosso futuro comum!
E o primeiro de todos os contributos, aquele que os bravorosos resistentes e obreiros do 25 de Abril de 1974 mais almejaram, é provavelmente aquele que hoje é mais desprezado : o ato eleitoral!
As eleições, sejam elas para Órgãos de Soberania ou da Administração Local, são o momento próprio em que a voz do Povo se torna soberana e aqueles que são eleitos são revestidos da dignidade de servidores da Causa Pública!
Que este 25 de Abril de 2017, celebrando o 25 de Abril de 1974, se prolongue até ao dia 01 de Outubro de 2017, assumindo todos o compromisso de dar continuidade à luta pela afirmação da Liberdade e da Democracia, estimando a Política enquanto nobre atividade para a construção do bem comum!
Porque o futuro da Marinha Grande está nas mãos dos Marinhenses, de todos nós!, apelo aqui e hoje à mobilização de todos para um ato eleitoral autárquico que dignifique e honre o legado que nos foi deixado pelos que fizeram o 25 de Abril de 1974!
Porque independentemente das convicções, ideologias ou filiações, e dos projetos próprios de cada força política, todos deveremos estar unidos no propósito de servirmos da melhor maneira o desenvolvimento do Concelho a bem de todos os Marinhenses, Vieirenses e Moitenses!
Por Vieira de Leiria!
Pela Moita!
Pela Marinha Grande!
Pela nossa Cidade e pelo nosso Concelho!
As portas que Abril abriu
jamais voltarão a ser cerradas!
Viva o 25 de Abril! Viva a Marinha Grande!"
Discurso proferido pelo Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, Paulo Vicente, às 00h00 do dia 25 de abril de 2017, na varanda dos Paços do Concelho
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