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1.º ENCONTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - DISCURSO DA VICE-PRESIDENTE E VEREADORA DA EDUCAÇÃO

DISCURSO DA VICE-PRESIDENTE E VEREADORA DA EDUCAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DA MARINHA GRANDE

SESSÃO DE ENCERRAMENTO DO 1.º ENCONTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - OPORTUNIDADES E DESAFIOS’2023

Casa da Cultura Teatro Stephens

8 de setembro de 2023

 

"Ao longo destes dois dias do 1.º Encontro Municipal de Educação – Oportunidades e desafios, especialmente dedicado aos docentes, recursos humanos não docentes e famílias tivemos oportunidade de refletir sobre as oportunidades e desafios que se colocam à educação nos dias hoje.

Em jeito de síntese partilho algumas notas sumárias sobre o encontro.

Na sessão de abertura, Aurélio Ferreira, falou dos desafios da transferência de competências numa abordagem Escola e Município, considerando que o período é também uma oportunidade de planear a educação e construir projetos trilhados pelos diferentes atores da comunidade educativa, havendo necessidade de grandes investimentos nos equipamentos educativos. Deu nota do apreço pelo papel fundamental do docente no processo de transmissão do conhecimento e na vida dos alunos, bem como realçou a necessidade de reforçar e capacitar os recursos humanos não docentes, aqueles que também cuidam, acompanham e asseveram a proteção no espaço escolar.

Sentimos que o caminho da relação intermunicipal é o espaço potenciador das sinergias na educação e das relações intermunicipais, que, como referiu Paulo Santos, “a batalha da excelência da educação é também aqui construída todos os dias” por todos os que estão envolvidos neste enorme processo.

Para António Leite, “A Escola é, de facto, um instrumento que pode permitir que se quebrem ciclos de exclusão e ciclos de pobreza que infelizmente se mantém no nosso país, pois a escola é a única oportunidade que têm. Por isso é o sítio onde se colocam todas as esperanças. A escola é uma tarefa de todas e de todos.

A conferência de abertura contou com David Justino, que nos trouxe os cinco desafios para a educação em Portugal e para as políticas educativas por todo o lado, os quais estão a moldar aquilo que é a instituição educação.

Porque vivemos um dos períodos mais fascinantes da humanidade, o primeiro desafio é o da tecnologia, a sua velocidade afeta a vida das pessoas e, na sequência, a vida da escola. Neste particular, a abordagem sobre a inteligência emocional permitiu perceber que ela vive de padrões estabelecidos, mas como não se vive só de padrões, quando aparecem singularidades, num sistema dinâmico, ela não dá resposta ou, se a dá, pode não ser a mais acertada. A capacidade de mobilizar a atenção e curiosidade dos alunos para as singularidades é tão importante quanto ensinar-lhes os padrões, sobretudo na área emocional. A relação entre o professor e o aluno é uma relação humana, a aprendizagem é uma relação humana. A partir da altura em que ousamos alienar essa dimensão, a máquina não nos responde. A Inteligência Artificial também não prevê os contextos de incerteza. Como fazemos a pedagogia do digital, como posso utilizar o digital para melhor ensinar e fazer aprender.

O segundo desafio é o das neurociências. Nós sabemos muito sobre como é que se ensina, mas sabemos muito pouco como é que os alunos aprendem. A investigação entre as neurociências e a aprendizagem tem dado contributos que não devemos ignorar, na medida em que poderá ajudar-nos a ajustar métodos que já utilizamos. Temos que avaliar se não vale apena ter um plano integrado de articulação entre a creche e o pré-escolar e depois no 1.º ciclo.

O terceiro é a complexidade social. Temos uma diversidade social e cultural que se reflete na vida da escola. Isto é um tripé, se valorizamos em excesso um tripe outros caem. Nós tendemos a valorizar mais o «pé» profissional. O que me adianta ter um bom profissional se ele é uma péssima pessoa, um péssimo cidadão. Mais importante do que saber fazer é saber ser. Fez a destrinça entre o conhecimento e competências, realçando que uma pessoa inculta não pode ser competente.

O quarto é o pensamento crítico. Importar ser criativo na educação, tendo por base o conhecimento e as competências.

O quinto é o professor. Vocês são o desafio, face aos quatro desafios descritos todos eles caem em cima do professor, uma espécie de saco de pancada. Como é que o professor lida com estes princípios. Precisamos de um novo perfil do professor, precisamos de saber quais são as caraterísticas que ele deve ter. Eles são especialistas em ensinar e fazer aprender.

O primeiro painel da tarde, focado na saúde mental e nas competências socioemocionais, contamos com uma primeira intervenção por Manuela Grazina centrada na abordagem sobre o cérebro, felicidade e a escola. Realçou a importância dos sentidos, do património genético e biológico. Para ela a igualdade não existe, o que existe é o direito à diferença, à equidade. O professor é a profissão mais importante do mundo porque é essa que prepara todas as outras. Os professores são influencers desde sempre, influencers de serviço, como lhe chamou Manuela Grazina. Para ser feliz precisamos de um cérebro bem funcionante, alimentação que por via do natural processo químico nos permite ter sensações de prazer, bem-estar e felicidade, mas nem todos produzimos esse efeito com a mesma velocidade ou eficiência. Com o conhecimento passamos a ter a mesma possibilidade. Depois de ontem o nosso cérebro nunca mais ficou igual. Ficámos com a responsabilidade de ser mais felizes e fazer felizes aqueles que estão à nossa volta.

Ana Quitério fez uma abordagem do ter associada ilusoriamente à felicidade. Não é o exterior que nos dá a sensação de bem-estar. Nas escolas há, desde muito cedo, a recompensa pelo comportamento. A recompensa é importante, mas não pode ser o único fator para que ela tenha um determinado comportamento. Abordou a questão da falta de tempo e o facto das emoções que veem da raiva, da dor ou frustração, terem um reflexo direto no nosso corpo. Daí a importância do ambiente em que estamos e a forma como gerimos as emoções. A gestão do “ter de fazer” associada à noção do tempo e à necessidade de autorregulação do tempo. Temos de estar focados naquilo que queremos construir e não estar à espera de que a escola tenha que dar resposta a tudo.

Helena Marujo sobre a temática “Educar já não é o que era: De que precisa hoje o mundo?”, falou sobre as questões da saúde mental e da prevenção. Numa analogia com o terreno baldio e a horta falou da doença mental, que também é assim. Temos de saber o que queremos plantar. Bem-estar e felicidade são, seguramente, as grandes plantações. O maior estudo longitudinal da história mostra que o indicador mais importante para a longevidade, saúde e felicidade é a qualidade das relações interpessoais. Quando pensamos a educação temos que reforçar que ela é feita em relação, num processo interativo com outro, não apenas na área do conhecimento, mas porque o processo direto de aprendizagem é feito em coconstrução. Conseguir reconhecer hoje que as emoções positivas podem ser um recurso extraordinário na capacidade de resiliência, na proteção do sistema imunitário, na capacidade de recuperação das circunstâncias difíceis de vida é um conhecimento com implicações práticas nas vidas coletivas, temos que ter emoção de elevação, querer ser melhores pessoas.

O 2.º Painel sobre a Escola, Inclusão Social e Cidadania iniciou com Francisco Neves que nos trouxe uma abordagem da intervenção do Alto Comissariado para as migrações, associada à intervenção na escola em matéria de integração social. Apresentou uma análise sobre como encaramos a diversidade na escola, o que dizemos e agimos sobre ela. Levantou questões como as Barreiras Culturais e Linguísticas, a questão dos preconceitos e estereótipos, as dificuldades associadas à falta de Formação específica dos professores, dando nota de que o Alto Comissariado promove este tipo de formação. A resistência à mudança existente em algumas comunidades pode dificultar os processos de inclusão, afetando a qualidade do ensino (famílias e docentes). Abordou, ainda, a questão do enriquecimento cultural e da aprendizagem Interpessoal, isto é, a importância da interação com colegas de diferentes origens, a qual promove a compreensão, a tolerância e a aceitação. Por fim, realçou a criatividade e Inovação como estratégia de estimulação da diversidade cultural.

A Igualdade de género no desporto foi trazida por Manuel Nunes e Carmo Santos. Depois de uma resenha histórica sobre a presença da mulher no contexto desportivo, abordou-se a importância do desporto em contexto escolar e as vantagens que tem no desenvolvimento dos alunos. O testemunho de Carmo Santos, como professora e atleta são um exemplo de superação e da importância dos fenómenos igualitários, como, pelo desporto, se pode ajudar alunos em processos integratórios e de aprendizagens. A abordagem do aluno enquanto ser individual, que exige uma resposta adequada às suas singularidades e percursos, também pode passar pelo desporto.

Sílvia Almeida apresentou-nos o Projeto “Inclusão ou discriminação? Da análise dos resultados escolares às estratégias para o sucesso dos alunos com origem imigrante”. Abordou alguns exemplos de processos e iniciativas de integração escolar que passam por planos específicos que as escolas podem desenvolver onde incluem iniciativas culturais, de adaptação de refeições escolares, criação de dinâmicas escola, família e comunidade, adaptação dos espaços pelas artes e performances, que levam as diversidades culturais aos espaços comuns da escola.

O terceiro painel dedicado à Escola e família contou com a presença de Susana Jacinto. Partilhou uma reflexão sobre o papel de mediação da escola-família e a necessidade das famílias participarem mais na vida da escola, sendo, este, um grande desafio. A abordagem da família em contexto escolar contribui para uma melhor perceção das verdadeiras necessidades das crianças e jovens em contexto escolar, muitas vezes reflexos do contexto família. A escola e família têm que estar lado a lado no processo educativo.

O dia terminou com André Fernandes. A propósito do Coaching - Arriscas-te? André trouxe ao palco da Casa da Cultura o seu testemunho inspirador de vida, deixando uma mensagem de que o amor é o sentido da vida.

No segundo dia do Encontro a inteligência emocional e a ludicidade esteve connosco no 1.º Painel. Com Rui Matos, percebemos que é bom quando as crianças se sujam ao jogar/brincar. Os pais podem ser amortecedores e que o papão é importante até na música que protege as crianças. Passámos a gostar do medo, porque ele nos ajuda a crescer e a nossa cabeça está cheia de trovões. Levamos uma bela lição. Nós não paramos de brincar porque ficamos velhos, nós ficamos velhos porque paramos de brincar.

Vanda Pedrosa trouxe-os emoções, as do corpo e do pensamento. Permitiu-nos perceber que o dia em que semeamos não é o dia em que colhemos, tal como sucede na educação.

O 2.º Painel foi dedicado às Intervenções dos Agrupamentos de Escolas, onde tivemos oportunidade de perceber que neste concelho são desenvolvidos projetos de excelência na educação, tanto numa dimensão local como internacional. Estou certa de que compreenderão porque me dirijo, em particular, aos alunos.

Queridos alunos, crianças e jovens, que um dia serão homens e mulheres desta terra e do mundo.

A presença particular de alunos neste Encontro permitiu-nos ter os principais atores do processo educativo. É para vós que centenas de docentes, não docentes, direções de agrupamentos de escolas, equipas técnicas, em particular a da educação e demais entidades da comunidade educativa. Vocês são a nossa inspiração e a razão fundamental do nosso trabalho. O nosso maior foco é ver-vos crescer, perceber que adquiriram conhecimento e competências, que contribuímos para o vosso desenvolvimento, é sentir que os vossos professores são, na vossa vida, uma referência… os vossos verdeiros influencers, porque estão na base da vossa futura profissão, estão na vossa memória para sempre e as palavras deles irão acompanhar-vos para a vida. É perceber que vocês conseguirão gerir melhor as vossas emoções, que sabem lidar com as coisas boas e menos simpáticas da vida, que estão preparados para enfrentar as oportunidades e desafios que o mundo vos coloca, que conseguem construir relações boas e salutares para o vosso bem-estar e que dia após dia serão melhores pessoas, porque ser é muito mais importante do que ter.

Um dia poderão estar novamente nesta sala e perceber o valor do professor, mesmo depois dele terminar o seu percurso profissional e, finalmente, ter tempo para se dedicar verdadeiramente à sua família e amigos, ter mais tempo para si e para a sua pessoa, fazer aquilo que ao longo de muitas décadas não teve esse momento para desfrutar. O dia em que o vosso professor merece, mesmo que simples, uma homenagem da comunidade educativa e do Município, por tudo o que foi e deu de si à vida dos alunos desta terra.

O momento é aquele que acabámos ter.

Para terminar chamo agora ao palco alguns dos rostos da educação aqui presentes, começando pelos diretores de escolas aqui presentes, a quem agradeço o facto de se terem cruzado comigo nesta missão, os presidentes dos conselhos gerais, os presidentes de juntas de freguesia, as forças de Segurança, a diretora do centro de formação, os representantes de associações de pais, os alunos que hoje foram aqui oradores, a minha equipa da educação.

Bem-haja a todos os que fazem a educação no Município da Marinha grande. Desejo-vos um excelente ano Letivo 2023/24!"

Ana Alves Monteiro | Vice-presidente e Vereadora da Educação

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