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Discurso do Presidente da Assembleia Municipal da Marinha Grande na sessão comemorativa do 25 de Abril da Assembleia Municipal

Discurso do Presidente da Assembleia Municipal, Aníbal Curto Ribeiro

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA MARINHA GRANDE
SESSÃO COMEMORATIVA DO 25 ABRIL
48º ANIVERSÁRIO

25 de abril de 2022

 

"LIBERDADE(S)
1974-2022

De 1974 a 2022 passaram-se 48 anos que hoje comemoramos solenemente nesta Sessão da Assembleia Municipal que é o órgão representativo dos Valores primordiais e fundamentais da Democracia nascida naquela madrugada de 25 de abril:
A Liberdade,
A Igualdade e
A Representatividade do Povo na construção de um futuro que se quer feito de progresso.
E o progresso que só o é quando para todos acontece.

Enquanto Presidente da Assembleia Municipal da Marinha Grande é uma honra e um privilégio presidir a esta Sessão Solene e, nessa função, permito-me
Saudar os senhores e senhoras Deputados Municipais
Saudar o Senhor Presidente da Câmara Municipal, e as senhoras e senhores vereadores
a Senhora e Senhores Presidentes das Juntas de Freguesia do Concelho,
Saudar e fazer memória a todos os anteriores Presidentes desta Assembleia Municipal, bem como a todos os que dela fizeram parte, representando a vontade popular expressa nos sucessivos atos eleitorais desde 1976;
Saudar também as Exmas. Autoridades e Entidades Públicas e da Sociedade Civil, que nos honram com a sua presença.
Saudar ainda todos os Marinhenses que quiseram associar-se a esta comemoração com a sua presença.

Comemorar o 25 de abril é, em primeiro lugar, fazer memória e celebrar a determinação, a coragem e a perseverança de todos os homens e mulheres que, durante mais de 40 anos, não se resignaram nem se deixaram vencer por um regime que, não apenas, oprimiu, amordaçou e fustigou os seus Concidadãos, como, impediu o progresso do nosso País, alimentando uma Sociedade classicista, onde só alguns privilegiadas a ele tinham acesso.
uma Sociedade machista, onde a mulher foi subjugada, sem direito à sua autodeterminação ou identidade individual, condenada a viver na sombra do homem;
uma Sociedade racista e xenófoba, apesar de Portugal ter sido o primeiro país no mundo a abolir a escravatura, mas onde o estrangeiro, em especial os nossos irmãos oriundos das colónias de África, era usado e tratado como um objeto e não como um Igual.

E nós Marinhenses, conhecemos bem o preço de não calar e resistir ao Regime, porque não esquecemos aqueles e aquelas que foram perseguidos, presos, torturados e alguns mesmo assassinados às mãos do sistema de informação e segurança do estado fascista, na sequência da revolução do 18 de janeiro de 1936.
E quantos mais nos anos e décadas que se seguiram não continuaram a ser perseguidos, ameaçados, presos, torturados nas prisões políticas como o Forte de Peniche ou no Tarrafal?
Não esquecemos. Não os esqueceremos nunca, e devemos honrar a sua memória.
Passados 48 anos, e neste ano com mais dias vividos em Liberdade e Democracia que aqueles que foram vividos em ditadura, podemos dizer com firme convicção, que Portugal é hoje um país melhor, pese embora possamos ainda encontrar alguns sinais que nos devem manter alerta, sob pena de perdermos tudo quanto já conquistámos e de não alcançarmos o que ainda esperamos.
Se por um lado foram quebradas as barreiras sociais entre classes, géneros, raças e credos, por outro lado a exploração, a discriminação, a intolerância e a xenofobia assumem hoje novos contornos que exigem a nossa atenção.
Se por um lado foi conquistado direito à livre participação de todos os Cidadãos na construção da Sociedade, por outro lado cresce o abstencionismo associado a um descontentamento generalizado junto da população, sobre o sistema político.

É preciso por isso, estar atento e agir sobre estes sinais.

A liberdade pode aproveitar àqueles que dela fazem uso perverso, e permitir o aparecimento e crescimento de movimentos e partidos políticos com uma ideologia próxima dos regimes totalitários, fascistas e xenófobos, como aquele em que vivemos durante mais de 40 anos.

É preciso que, particularmente nós, Agentes Políticos, Eleitos pelo sufrágio direto e universal dos nossos Concidadãos, tenhamos consciência de que somos os primeiros guardiães deste Legado que hoje comemoramos, e que nessa medida é a nós, em primeiro lugar, que cumpre lutar, defender e proclamar os valores fundamentais de abril: liberdade, justiça, igualdade, fraternidade e progresso!
Ao mesmo tempo, não podemos permitir que as novas gerações ignorem o passado, sendo nosso dever contrariar o olhar de indiferença que têm sobre este dia.
Na verdade, este dia nasceu, sobretudo, para eles.
Mas temos que ter sempre presente que a liberdade não pode nunca ser considerada como adquirida.

Torna -se assim fundamental ter um olhar atualizado sobre o que representam os valores de abril para as novas gerações.
Não podendo alterar o passado, podendo apenas aceitá-lo, mas o presente enquanto futuro em construção, sim podemos, e está nas nossas mãos fazer diferente e prevenir que novas formas de discriminação, de opressão e de exploração se instalem na sociedade.

Para podermos reflectir esta situação, quisemos este ano trazer algo diferente a esta sessão comemorativa, e nesse sentido desafiei o Senhor Diretor do Agrupamento de Escolas da Marinha Grande Poente, o Professor Cesário Silva, para que nos ajudasse a trazer a esta Sessão Solene a voz dos mais jovens, o seu olhar e o seu sentir sobre o que para eles representa a essência do 25 de abril.
O que acabámos de assistir no excerto que nos apesentaram, revela-nos o testemunho do dia a dia dos jovens em ambiente escolar.
O que seria a percepção em situações de precaridade social e familiar?

Podemos assim, perceber que em épocas distintas, a opressão, a discriminação e a violência, física ou psicológicas, são marcas que persistem na nossa Sociedade e às quais não são indiferentes os mais jovens, pois afectam a formação da sua personalidade e a sua percepção dos valores civilizacionais.
Por isso, e perante isto, o que mais nos deve questionar é como é possível que 48 anos depois, em pleno século XXI, as novas gerações, os nossos filhos e netos, experimentem e vivenciem este tipo de situações: racismo, xenofobia, discriminação de género ou sexual, bullying, entre outras?
Como podemos nós, Cidadãos de um país Livre e Democrático, Progressista e Humanista, como nos define a nossa Constituição da República, conviver pacificamente com esta realidade?
Que noção e sentido de Liberdade, de Solidariedade e de Fraternidade construímos para nós próprios e para os outros, sobretudo para os nossos filhos e netos?

Senhoras e Senhores Deputados à Assembleia Municipal
Senhor Presidente e Vereadores da Câmara Municipal
Digníssimos convidados
Marinhenses
Comemorar o 25 de abril não pode ser apenas a evocação de um passado remoto, ou o autoelogio dos agentes políticos, cada um a afirmar-se mais digno de uma herança que afinal é de todos nós enquanto Cidadãos deste País.

Comemorar o 25 de abril não pode ser apenas a reivindicação de mais ou de novos direitos e regalias sociais, ainda que tenhamos de reconhecer que neste campo há muito por fazer, e que urge fazer mais e fazer melhor, garantindo a concretização do que preconiza a nossa Constituição: uma Sociedade justa, solidária e com igualdade de oportunidades para todos, sem deixar de atender e proteger os mais vulneráveis.

No contexto global em que vivemos hoje, comemorar o 25 de abril deve fazer-nos refletir também sobre o nosso papel para a construção de uma Sociedade aberta, justa, pluralista, progressista e humanista, na senda do que defenderam e do que tinham em mente aqueles que lançaram a primeira pedra desta construção naquela madrugada de 25 de abril de 1974.
Esta construção não é uma missão apenas dos Governos nacionais, mas também dos governos locais, através dos Órgãos Autárquicos eleitos pelo sufrágio direto dos cidadãos eleitores para promover o progresso e o bem-estar nos seus territórios e dos seus concidadãos, nos termos definidos pelo regime jurídico que lhes é aplicável.

Mas esta construção não é uma missão apenas dos titulares de Órgãos políticos, mas sim de todos os Agentes Públicos, em especial aqueles que atuam, no âmbito da sua atividade profissional para a educação e a formação dos Cidadãos ao longo da vida; para o acompanhamento e promoção social dos indivíduos, grupos e comunidades; para a defesa e segurança dos cidadãos, em especial os mais vulneráveis e as vítimas de algum tipo de crime contra a integridade física e/ou psicológica.

Esta construção é necessariamente uma missão de todos nós enquanto Cidadãos titulares de direitos e ao mesmo tempo de deveres para com o nosso País. Por isso, somos chamados a dar o nosso contributo imprescindível para a defesa e promoção dos valores de abril, nos contextos que habitamos quotidianamente.

Quero no final, endereçar à professora Francisca e aos seus alunos, o mais sincero agradecimento pelas mensagens que nos entregaram.
Agradecer também ao Grupo Coral da Tertúlia da Anos d´Ouro, e aos alunos do Sport Operário Marinhense que nos enriquecem a parte cultural desta celebração.

A nós, que sejamos hoje e sempre,
Obreiros da Liberdade e da Justiça,
da Solidariedade e da Fraternidade!
Que sejamos assim, hoje e sempre, dignos herdeiros do 25 de abril de 1974.

Viva o 25 de Abril.
Viva a Marinha Grande.
Viva Portugal."

Aníbal Curto Ribeiro
Presidente da Assembleia Municipal da Marinha Grande